HOME VOLTAR

(Lc 22,1—23,56)

Estava próxima a festa dos Pães sem fermento, chamada Páscoa. Os sumos sacerdotes e os escribas procuravam uma maneira de se livrar de Jesus. De fato, tinham medo do povo. Entretanto, Satanás entrou em Judas, chamado Iscariotes, um dos doze, e ele foi combinar com os sumos sacerdotes e com os comandantes da guarda como entregar-lhes Jesus. Eles ficaram muito contentes e concordaram em dar-lhe dinheiro. Judas comprometeu-se e procurava uma oportunidade para entregá-lo, sem que a multidão percebesse.
Chegou o dia dos Pães sem Fermento, quando se devia sacrificar o cordeiro pascal. Jesus mandou Pedro e João, dizendo: “Ide fazer os preparativos para comermos a ceia pascal”. Eles perguntaram: “Onde queres que a preparemos?” Jesus respondeu: “Quando entrardes na cidade, virá ao vosso encontro um homem carregando uma bilha de água. Segui-o até a casa onde ele entrar e dizei ao dono da casa: “O Mestre manda perguntar: ‘Onde está a sala em que poderei comer a ceia pascal com os meus discípulos?’ Ele então vos mostrará uma grande sala arrumada, no andar de cima. Preparai ali”. Eles foram, encontraram tudo como Jesus tinha dito e prepararam a ceia pascal.
Quando chegou a hora, Jesus pôs-se à mesa com os apóstolos e disse: “Ardentemente desejei comer convosco esta ceia pascal, antes de padecer. Pois eu vos digo que não mais a comerei, até que ela se realize no Reino de Deus”. Então pegou o cálice, deu graças e disse: “Recebei este cálice e fazei passar entre vós; pois eu vos digo que, de agora em diante, não mais beberei do fruto da videira, até que venha o Reino de Deus”. A seguir, tomou o pão, deu graças, partiu-o e lhes deu, dizendo: “Isto é o meu corpo, que é dado por vós. Fazei isto em memória de mim”. Depois da ceia, fez o mesmo com o cálice, dizendo: “Este cálice é a nova aliança no meu sangue, que é derramado por vós. Todavia, a mão de quem vai me entregar está perto de mim, nesta mesa. Sim, o Filho do Homem se vai, como está determinado. Mas ai daquele por quem ele é entregue”. Então começaram a perguntar uns aos outros qual deles haveria de fazer tal coisa. Quem é o maior?
Houve ainda uma discussão entre eles sobre qual deles devia ser considerado o maior. Jesus, porém, lhes disse: “Os reis das nações dominam sobre elas, e os que exercem o poder se fazem chamar benfeitores. Entre vós, não deve ser assim. Pelo contrário, o maior entre vós seja como o mais novo, e o que manda, como quem está servindo. Afinal, quem é o maior: o que está à mesa ou o que está servindo? Não é aquele que está à mesa? Eu, porém, estou no meio de vós como aquele que serve.
Vós sois aqueles que permaneceram comigo em minhas provações. Por isso, assim como o meu Pai me confiou o Reino, eu também vos confio o Reino. Havereis de comer e beber à minha mesa no meu Reino, e vos sentareis em tronos para julgar as doze tribos de Israel.
“Simão, Simão! Satanás pediu permissão para peneirar-vos, como se faz com o trigo. Eu, porém, orei por ti, para que tua fé não desfaleça. E tu, uma vez convertido, confirma os teus irmãos”. Simão disse: “Senhor, eu estou pronto para ir contigo até mesmo à prisão e à morte!” Jesus, porém, respondeu: “Pedro, eu te digo que hoje, antes que o galo cante, três vezes negarás que me conheces”.
E Jesus lhes perguntou: “Quando vos enviei sem bolsa, sem sacola, sem sandálias, faltou-vos alguma coisa?” Eles responderam: “Nada.” Jesus continuou: “Agora, porém, quem tiver bolsa, pegue-a; do mesmo modo, quem tiver sacola; e quem não tiver espada, venda o manto para comprar uma. Pois eu vos digo: é preciso que se cumpra em mim a palavra da Escritura: ‘Ele foi contado entre os transgressores’. O que foi dito a meu respeito está se consumando”. Mas eles disseram: “Senhor, aqui estão duas espadas!” Jesus respondeu: “Basta!”
Jesus saiu e, como de costume, foi para o monte das Oliveiras. Os discípulos o acompanharam. Chegando ao lugar, Jesus lhes disse: “Orai para não cairdes em tentação”. Então afastou-se dali, à distância de um arremesso de pedra, e, de joelhos, começou a orar. “Pai, se quiseres, afasta de mim este cálice; contudo, não seja feita a minha vontade, mas a tua!” Apareceu-lhe um anjo do céu, que o fortalecia. Entrando em agonia, Jesus orava com mais insistência. Seu suor tornou-se como gotas de sangue que caíam no chão. Levantando-se da oração, Jesus foi para junto dos discípulos e encontrou-os dormindo, de tanta tristeza. E perguntou-lhes: “Por que estais dormindo? Levantai-vos e orai, para não cairdes em tentação”.
Jesus ainda falava, quando chegou uma multidão. Na frente, vinha um dos Doze, chamado Judas, que se aproximou de Jesus para beijá-lo. Jesus lhe disse: “Judas, com um beijo tu entregas o Filho do Homem?” Vendo o que ia acontecer, os que estavam com Jesus disseram: “Senhor, vamos atacá-los com a espada?” E um deles feriu o servo do sumo sacerdote, cortando-lhe a orelha direita. Jesus, porém, ordenou: “Deixai, basta!” E tocando a orelha do homem, o curou. Depois Jesus disse aos sumos sacerdotes, aos comandantes da guarda do templo e aos anciãos, que tinham vindo prendê-lo: “Saístes com espadas e paus, como se eu fosse um bandido? Todos os dias eu estava convosco no templo, e nunca levantastes a mão contra mim. Mas esta é a vossa hora, e o poder das trevas”.
Eles prenderam Jesus e o levaram, conduzindo-o à residência do sumo sacerdote. Pedro acompanhava de longe. Eles acenderam uma fogueira no meio do pátio e sentaram-se ao redor. Pedro sentou-se no meio deles. Ora, uma criada viu Pedro sentado perto do fogo; encarou-o bem e disse: “Este aqui também estava com ele!” Mas ele negou: “Mulher, eu nem o conheço!” Pouco depois, um outro viu Pedro e disse: “Tu também és um deles.” Mas Pedro respondeu: “Não, homem, eu não”. Passou mais ou menos uma hora, e um outro insistia: “Certamente, este aqui também estava com ele, pois é galileu!” Mas Pedro respondeu: ”Homem, não sei de que estás falando!” E, enquanto ainda falava, o galo cantou. Então o Senhor se voltou e olhou para Pedro. E Pedro lembrou-se da palavra que o Senhor lhe tinha dito: “Hoje, antes que o galo cante, três vezes me negarás”. Então Pedro saiu do pátio e pôs-se a chorar amargamente. “Profetiza!”
Os homens que vigiavam Jesus escarneciam dele e o espancavam. Cobriam o seu rosto e lhe diziam: “Profetiza! Quem é que te bateu?” E o insultavam de muitos outros modos. Diante do Sinédrio
Ao amanhecer, os anciãos do povo, os sumos sacerdotes e os escribas reuniram-se e levaram Jesus ao sinédrio. E o interpelavam: “Se tu és o Cristo, dize-nos!” Ele respondeu:“ Se eu vos disser, não me acreditareis, e se eu vos fizer perguntas, não me respondereis. Mas, de agora em diante, o Filho do Homem estará sentado à direita do Deus Todo-Poderoso”. Então todos perguntaram: “Tu és, portanto, o Filho de Deus?” Jesus respondeu: “Vós mesmos estais dizendo que eu sou!” Eles disseram: “Será que ainda precisamos de testemunhas? Nós mesmos o ouvimos de sua própria boca!”
Em seguida, todo o grupo deles se levantou, e levaram Jesus a Pilatos. Começaram então a acusá-lo, dizendo: “Achamos este homem fazendo subversão entre o nosso povo, proibindo pagar os tributos a César e afirmando ser ele mesmo o Cristo, o Rei”. Pilatos o interrogou: “Tu és o Rei dos Judeus?” Jesus respondeu: “Tu o dizes!” Então Pilatos disse aos sumos sacerdotes e à multidão: “Não encontro neste homem nenhum crime”. Eles, porém, insistiam: “Ele agita o povo, ensinando por toda a Judéia, desde a Galiléia, onde começou, até aqui”. Quando ouviu isto, Pilatos perguntou: “Este homem é galileu?” E, depois de verificar que Jesus estava sob a autoridade de Herodes, enviou-o a este, pois também Herodes estava em Jerusalém naqueles dias.
Herodes ficou muito contente ao ver Jesus, pois havia muito tempo desejava vê-lo. Já ouvira falar a seu respeito e esperava vê-lo fazer algum milagre. Ele interrogou-o com muitas perguntas. Jesus, porém, nada lhe respondia. Os sumos sacerdotes e os escribas estavam presentes e o acusavam com insistência. Herodes, com seus soldados, tratou Jesus com desprezo, zombou dele, vestiu-o com uma roupa vistosa e mandou-o de volta a Pilatos. Naquele dia, Herodes e Pilatos se tornaram amigos, pois antes eram inimigos.
Então Pilatos convocou os sumos sacerdotes, as autoridades e o povo, e lhes disse: “Vós me trouxestes este homem como se fosse um agitador do povo. Pois bem! Já o interroguei diante de vós e não encontrei nele nenhum dos crimes de que o acusais; nem Herodes encontrou, pois o mandou de volta para nós. Como podeis ver, ele nada fez para merecer a morte. Portanto, vou castigá-lo e depois o soltarei”. Ora, em cada festa de Páscoa, Pilatos devia soltar-lhes um prisioneiro.
Toda a multidão começou a gritar: “Fora com ele! Solta-nos Barrabás!” Barrabás tinha sido preso por causa de uma rebelião na cidade e por homicídio. Pilatos falou outra vez à multidão, pois queria libertar Jesus. Mas eles gritavam mais alto: “Crucifica-o! Crucifica-o!” E Pilatos falou pela terceira vez: “Que mal fez este homem? Não encontrei nele nenhum crime que mereça a morte. Portanto, vou castigá-lo e depois o soltarei”. Eles, porém, continuaram a gritar com toda a força, pedindo que fosse crucificado. E a gritaria deles prevaleceu. Então Pilatos decidiu que fosse feito o que eles pediam. Soltou o homem que eles queriam (aquele que fora preso por rebelião e homicídio) e entregou Jesus à vontade deles.
Enquanto levavam Jesus, pegaram um certo Simão, de Cirene, que voltava do campo, e mandaram-no carregar a cruz atrás de Jesus. Seguia-o uma grande multidão do povo, bem como de mulheres que batiam no peito e choravam por ele. Jesus, porém, voltou-se para elas e disse: “Mulheres de Jerusalém, não choreis por mim! Chorai por vós mesmas e por vossos filhos! Porque dias virão em que se dirá: ‘Felizes as estéreis, os ventres que nunca deram à luz e os seios que nunca amamentaram’. Então começarão a pedir às montanhas: ‘Caí sobre nós!’, e às colinas: ‘Escondei- nos!’ Pois, se fazem assim com a árvore verde, o que não farão com a árvore seca?” Levavam também dois malfeitores para serem executados com ele.
Quando chegaram ao lugar chamado Calvário, ali crucificaram Jesus e os malfeitores: um à sua direita e outro à sua esquerda. Jesus dizia: “Pai, perdoa-lhes! Eles não sabem o que fazem!”
Repartiram então suas vestes tirando a sorte. O povo permanecia lá, olhando. E até os chefes zombavam, dizendo: “A outros ele salvou. Salve-se a si mesmo, se, de fato, é o Cristo de Deus, o Eleito!” Os soldados também zombavam dele; aproximavam-se, ofereciam-lhe vinagre e diziam: “Se és o rei dos judeus, salva-te a ti mesmo!” Acima dele havia um letreiro: “Este é o Rei dos Judeus”.
Um dos malfeitores crucificados o insultava, dizendo: “Tu não és o Cristo? Salva-te a ti mesmo e a nós!” Mas o outro o repreendeu: “Nem sequer temes a Deus, tu que sofres a mesma pena? Para nós, é justo sofrermos, pois estamos recebendo o que merecemos; mas ele não fez nada de mal”. E acrescentou:“ Jesus, lembra-te de mim, quando começares a reinar”. Ele lhe respondeu: “Em verdade te digo: hoje estarás comigo no Paraíso”.
Já era mais ou menos meio-dia, e uma escuridão cobriu toda a terra até às três da tarde, pois o sol parou de brilhar. O véu do Santuário rasgou-se pelo meio, e Jesus deu um forte grito: “Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito”. Dizendo isto, expirou. O centurião, vendo o que acontecera, glorificou a Deus dizendo: “Realmente! Este homem era justo!” E as multidões que tinham acorrido para assistir à cena, viram o que havia acontecido e foram embora, batendo no peito.
Todos os conhecidos de Jesus, bem como as mulheres que o acompanhavam desde a Galiléia, se mantinham a distância, olhando essas coisas.
Havia um homem bom e justo, chamado José, membro do sinédrio, o qual não tinha aprovado a decisão nem a ação dos outros membros. Ele era de Arimatéia, uma cidade da Judéia, e esperava a vinda do Reino de Deus. José foi ter com Pilatos e pediu o corpo de Jesus. Desceu o corpo da cruz, enrolou-o num lençol e colocou-o num túmulo escavado na rocha, onde ninguém ainda tinha sido sepultado. Era dia de preparação, e o sábado estava para começar.
As mulheres que com Jesus vieram da Galiléia, acompanharam José e observaram o túmulo e o modo como o corpo ali era colocado. Depois voltaram para casa e prepararam perfumes e bálsamos. E, no sábado, repousaram, segundo o preceito.